D'authentiques panneaux d'Azulejos de Aveiro dans un palais insolite à Magnac-Lavalette à quelques kilomètres d'Angoulême
LUSOJORNAL~~Edition nº 189 | Série II, du 08 octobre 2014 Hebdomadaire Franco-Portugais :Por António Garcia
~A poucos quilómetros da cidade de Angoulême, em Magnac-Lavalette, ergue-se um misterioso palácio em ruínas ao qual foi dado o nome de La Mercerie. Visto de longe, o edifício assemelha- se a uma imensa estação ferroviária em obras. Mas, quando nos aproximamos, verifica-se que se trata de uma mistura de edifícios sumptuosos, com estilos arquitetónicos pretensiosos e algo incompatíveis entre si. Temos assim, à esquerda da fachada que mede mais de duzentos metros, uma espécie de castelo de inspiração medieval - mas edificado nos finais do século XIX - que foi ligado a uma série de outras construções mais recentes, estas de cariz pretensamente renascentista, cujas obras se iniciaram por volta de 1940 e que se interromperam definitivamente há mais de quarenta anos. Este “sonho louco” é da autoria dos irmãos Réthoré. O mais velho, Raymond (1901-1986), antigo industrial, foi um verdadeiro cacique desta região, tendo sido Deputado do departamento da Charente durante cerca de quatro décadas. Ao que nos disseram, Raymond era poliglota e dominava pelo menos oito idiomas, entre os quais o grego clássico, o latim e até mesmo o português. O irmão mais novo, Alphonse (1905- 1983), depois de abandonar o curso de medicina, dedicou-se à arquitetura. Embora sem diplomas, foi ele que concebeu este irreverente projeto que custou fortunas. Sabe-se que os dois irmãos viveram bem. Pelo que nos disse a guia da visita, a intenção dos Réthorés era a de edificar um “petit Versailles charentais”. Para isso, mobilizaram durante anos e anos equipas de pedreiros e empregaram artistas plásticos italianos na decoração dos salões, cujas paredes e tetos ficaram pejados de quadros, colunas helénicas e azulejos portugueses. Foi durante uma visita a Portugal que Raymond se apaixonou pela cerâmica lusitana. Assim, em 1960, ele decidiu encomendar às fábricas Aleluia de Aveiro (fundadas em 1905), nada menos que 32 enormes painéis azuis e brancos contendo reproduções de quadros bucólicos. Houve quem nos dissesse que estes painéis de azulejos, alguns de sofrível interesse estético, são uma réplica à célebre galeria dos espelhos do palácio de Versalhes, o autêntico... Porém o sonho megalómano dos dois irmãos, que nunca se casaram, foi travado por razões financeiras. A ala oriental, talvez a mais majestosa, nunca teve telhado. Por volta de 1970, Raymond e Alphonse foram obrigados a desfazer-se de uma boa parte do mobiliário, antiguidades e obras de arte. Quiseram ceder o palácio à Assembleia Nacional, mas a Câmara dos deputados, então dirigida por Chaban- Delmas, recusou a proposta. Os dois irmãos faleceram sem terem pago impostos e legaram avultadas faturas que não foram cobertas pelo leilão de uma parte do património, em 1987. Mas os biógrafos garantem que os Réthorés não ficaram a dever coisa alguma aos operários e aos artistas plásticos que participaram na aventura. Uma violenta tempestade em 1999 fez voar os telhados, tendo danificado uma boa parte das galerias do palácio que foi vendido, acabando por ser cedido ao município. Desapareceram infelizmente os planos de construção deste impressionante monumento, hoje em dia gerido por uma associação de benévolos reunindo arquitetos, estudantes de arte e simples curiosos. Depois de terem reparado uma parte do telhado, estão a tentar reabilitar o interior e o recheio de várias alas do palácio. Vai ser necessário instalar uma boa iluminação para que possamos apreciar melhor os pormenores, designadamente os azulejos de Aveiro (que ficaram todos intactos) e também os muitos quadros românticos que escaparam às chuvas. As obras de restauro, que vão demorar vários anos, foram recentemente tema de reportagens televisivas. Apesar dos andaimes e da poeira, La Mercerie merece uma visita atenta.
Le chateau de la Mercerie mérite une visite.
www.chateaudelamercerie.fr